Qualquer coisa
-Você se lembra quando nós dormimos na praia de Boracéia. E não tinha lua nem um pouco de luz pra distinguir as coisas da terra. Tudo era um negro só. Nós estávamos perto do mato e sentíamos aquele cheiro de clorofila misturado com o nosso suor e o cio do nosso sexo. Você lembra? Quando você deitava sobre mim, as estrelas em volta da sua cabeça brilhavam, distantes, e às vezes embaraçavam no teu cabelo e ficavam a um palmo dos meus olhos e depois fugiam rapidamente para o céu. Você se lembra?
-Não lembro disso, porque foram seus olhos que viram. Eu estava do outro lado de você e via e sentia outras coisas. Para mim, tudo exalava de você confundida com a terra, e eu nem te enxergava direito. Eu descobria o teu corpo caminhando nele com os dedos. Naquela noite o prazer e o peso de estar no mundo foram maiores que sempre. E tudo tão simples: nós, nus, deitados na areia perto do mato, trocando pedaços de carne em plena noite. O que será isso?
-Poesia!"
In: PAIXÃO, Fernando. O que é Poesia. Primeiros Passos. Lilian Valéria
simplicidade e felicidade
ResponderExcluirtao juntas que ate rimam
O que me encanta nesse texto são as diversas reflexões e possíveis interpretações que ele suscita. Diz sobre poesia: sensações diferenciadas sobre um determinado evento. Todo vez que o leio, viajo muito.
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